Fidel Castro pratica beisebol após jogo com a Venezuela, em 2000
Quando tinha 20 e poucos anos, o estudante Fidel Castro se sobressaiu em dois campos: a luta política e o esporte, especialmente o beisebol. Tanto que poderia ter-se dedicado a lançar e bater bolas em vez de revolucionar e governar um país. Segundo o biógrafo Volker Skierka e o historiador Thomas Paterson, a direção do New York Giants, ofereceu ao jovem cubano um contrato de US$ 5 mil, uma fortuna na época. "Incrível, mas ele não aceitou. Na América Latina ninguém havia recusado uma oferta dessas", comentaria um dos negociadores, segundo Paterson.
Sessenta anos depois, Fidel Castro continua preso ao beisebol: da arquibancada televisiva, como a maioria dos cubanos, mas com plena disposição da tribuna ilimitada que se reserva a suas reflexões. O ex-líder já utilizou esse meio para relatar competições de beisebol e outros esportes nos Jogos Panamericanos de 2007 e nos Olímpicos de 2008.
Mas suas crônicas sobre beisebol mais atraentes até agora são as do Mundial que começou no dia 5 de março. O primeiro texto consistiu principalmente em uma arenga prévia. Com ela - e isso foi o mais forte - Fidel interrompeu de maneira abrupta a mais surpreendente e agressiva de suas últimas incursões nos assuntos de direção política, que, segundo o mesmo salientaria dias depois, correspondem a seu irmão, o presidente Raúl Castro.
Logo depois do parágrafo em que acusava de "ambição indigna" e outras coisas os recém-destituídos Felipe Pérez Roque e Carlos Lage - até quatro dias atrás seus homens de confiança -, Fidel escreveu: "Não aceito que se misturem agora as piadas com o Clássico de beisebol que está próximo de começar. Disse bem claro que nossos atletas do beisebol eram jovens de primeira linha e homens de pátria ou morte..."
O ex-presidente torcedor continuou o texto destacando o preparo e a coragem da equipe cubana e assumindo "toda a responsabilidade" pelo êxito ou um revés: "As vitórias serão de todos; a derrota jamais será órfã", afirmou. E para terminar desempoeirou sua velha saudação: "Pátria ou morte! Venceremos!"
O chefe revolucionário e hoje comentarista esportivo se superou depois das primeiras partidas. A reflexão se intitulava "A crítica justa e construtiva", o que de início fez pensar que trataria das mudanças no governo. Mas o texto se referia só ao Mundial. Algumas frases pareciam de cronista radiofônico. "O perigoso e emblemático Ichiro conecta um simples depois de falhar três vezes. A direção japonesa ordena um toque de bola ao segundo batedor da equipe, entregando assim o segundo out", dizia. E sentenciava: "Tenho certeza de que nossa experimentada aficção àquilo lhe pareceu um erro".
Fidel não deixou de censurar a equipe cubana por seus "descuidos" diante da África do Sul, a qual não obstante derrotou por 8 a 1. "Olivera e Paret se deixaram surpreender na primeira base e Michel Enríquez deu de presente um out com o avanço irracional para a segunda depois de bater hit, talvez agitado demais pela direção da equipe. Esse jogo teria sido ganho por knockout em 7 innings, com 6 home runs, dois de Cepeda, um recorde nos clássicos. Isso teria elevado o merecido prestígio do esporte cubano", objetou Fidel antes de esclarecer que fazia suas críticas "com admiração".
Castro publicou ontem uma nova reflexão esportiva, esta para dar ânimo e conselhos aos jogadores diante da partida com o Japão... E para acusar os organizadores do Clássico de tentar favorecer os EUA. No mesmo grupo "as três melhores equipes" (Japão, Coreia e Cuba).
É provável que Fidel continue comentando o Mundial. O ex-presidente cubano afirmou que não manda mais. Ao que parece, seu esporte é o do taco.
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