quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Fidel: ditador inflexível ou humanista revolucionário?


A renúncia do ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, deixa um profundo vácuo na política mundial. Polêmico, mas incisivo em suas intervenções, ele participou ativamente de alguns dos principais momentos da história mundial a partir de 1959, quando ao lado do irmão, Raúl, liderou levante armado que depôs o ditador Fulgencio Batista em 1º de janeiro de 1959 e instaurou, progressivamente, um regime comunista a 150 quilômetros dos EUA no auge da Guerra Fria.
No cenário internacional, além da importância geopolítica incontestavelmente adquirida com a aproximação da URSS e o fato de liderar o único país antagônico aos EUA na América em um mundo dividido entre as superpotências, Fidel assumiu durante muitas décadas o papel de maior patrono — ideológico e financeiro — da esquerda latino-americana. Auxiliou militarmente mais de uma dezena de países e facções esquerdistas dispostas à luta armada no continente e também na África. Ditador inflexível para os seus opositores, humanista revolucionário para os admiradores, é, primeiro de tudo, Fidel para os cubanos, quer os que o apoiam, quer os que o combatem, numa quase clandestinidade na ilha ou abertamente no exílio. Atípico, com a sua longa barba de antigo guerrilheiro, o seu surrado uniforme, a sua boina e os célebres charutos (até 1985), este filho de um emigrante espanhol que se tornou grande proprietário agrícola foi educado nos melhores colégios de maristas e jesuítas do país.
Só na Universidade aderiu à rebelião, e depois à guerra total, até à sua tomada do poder em 1959, de armas na mão, contra a ditadura de Fulgencio Batista. Guerreiro inveterado, os seus "mais belos anos" foram, diz ele, os 25 meses de guerrilha na Sierra Maestra (1957-1959), forjando a sua personagem de chefe militar, levado ao pico da lenda anti-imperialista com a sua retumbante vitória na Baía dos Porcos, em 1961. Apaixonadamente anti-norte-americano, nunca cessou de desafiar "o império" e, de fato, nenhuma das 13 administrações que se sucederam na Casa Branca conseguiu obter dele concessões de monta em 47 anos. Simultaneamente calculista e exaltado, capaz de cóleras homéricas, permitiu que centenas de milhares dos seus compatriotas tomassem o caminho do exílio, na sua maioria para as costas dos Estados Unidos. Os opositores não passam, aos seus olhos, de "mercenários" de Washington, passíveis de pesadas penas na prisão. Ideologicamente arreigado — "Nunca me senti mais próximo de Marx e Engels", disse no ano passado —, Fidel Castro devota ao dinheiro um desprezo feroz e sempre lhe preferiu um igualitarismo duvidoso. Praticamente só com Deus, o antigo aluno dos jesuítas procurou um compromisso: entre o marxismo e o cristianismo.

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